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Marisa Monte: coragem para abrir portas

Por Claudia Mastrange

Os fãs andavam com saudade. Afinal, foram 10 anos sem lançar uma música inédita. Mas Marisa Monte está de volta e brinda a todos com seu novo álbum Portas , lançado pela Sony Music e disponível nas plataformas digitais. Gravado em plena pandemia, era impossível que o momento de crise sanitária mundial não permeasse tanto a forma de produzir o novo trabalho, quanto a temática das canções. O resultado é um trabalho sensível e forte – como a voz da musa – mas também que flerta com a esperança de dias melhores.

O primeiro single, Calma, fala sobre um tema comum a todos no mundo inteiro: o isolamento social na pandemia do novo coronavírus. “De uma hora pra outra, a gente não podia mais sair e o mundo ficou perigoso. O primeiro momento foi de paralisia total. Todo mundo em casa, isolado, triste e com muito medo. Música é uma forma de arte coletiva feita de encontros e fomos atingidos em cheio”, declarou Marisa no teaser do clipe.

No início de 2020, a cantora já tinha várias novas composições finalizadas e planejava entrar em estúdio em maio. “Eu já tinha um repertório pronto, produzido ao longo dos últimos anos com diversos parceiros, esperando a hora certa de gravar. Mas, em março, as portas se fecharam e ficou impossível seguir com os planos. Como todo mundo, entramos numa inevitável pausa de mil compassos. Passaram-se alguns meses até que a gente pudesse compreender melhor a nova realidade cheia de protocolos sanitários, testes e máscaras”, conta.

A pausa que a principio cancelou as gravações, não impediu, porém, que os trabalhos continuassem e novas composições fossem surgindo. Além das já prontas, Marisa compôs mais três canções, Vagalumes, Sal e Você não liga. “E ainda chegou Espaçonave, só do (Marcelo) Camelo, mas a grande maioria já estava pronta esperando a oportunidade de ser gravada”, disse em entrevista.

Tantas pérolas na gaveta, era a hora de buscar um meio de iniciar os trabalhos, em meio as questões de saúde que seguiam deixando o mundo em uma ‘nova realidade’.  “Foi quando um amigo meu me disse: ‘se organiza com toda a segurança possível com uma equipe enxuta e comprometida, entra no estúdio e grava. Eu tenho certeza que vai ser bom pra vocês e vai fazer bem pra todos nós’. Música é remédio. Foi aí que a gente abriu as portas e reencontrou nosso caminho”, contou Marisa.

Gravações no Rio e remotas pelo mundo

Em novembro, com uma equipe pequena, comprometida e testada, a cantora entrou no estúdio, no Rio de Janeiro, para gravar as primeiras oito bases. “Minha ideia inicial que era viajar e formar uma segunda banda, em Nova York, ficou impossível. Achamos que valia a pena experimentar uma gravação remota. Com co-produção do Arto Lindsay, que trouxe a sua banda, arriscamos gravar duas músicas, Calma e Portas, eles num estúdio na rua 37 e nós no Rio via zoom. Pra nossa surpresa, deu muito certo, o que nos abriu um novo universo de possibilidades e nos deu confiança de seguir com gravações remotas em outras cidades e com outras formações também”, relata.

A continuidade dos trabalhos seguiu ultrapassando as fronteiras do Brasil. A equipe foi alternando gravações presenciais no Rio, com mais bases, complementos e os arranjos do maestro Arthur Verocai e do trombonista Antonio Neves, e gravações remotas em Lisboa , com os arranjos do Marcelo Camelo, e Los Angeles, com a colocação da voz da jovem parceira Flor.

“Gravamos ainda remotamente, Vento Sardo, em Madri e Barcelona com Jorge Drexler, que apesar de estar pronta e fazer parte do corpo desse álbum, decidimos lançar a posteriori, como um single, quando pudermos nos encontrar ao vivo”, antecipa a cantora, já dando um spoiler do que virá por aí mais adiante: o lançamento destacado da música em parceria com  o artista uruguaio.

O álbum foi mixado com engenheiros no Rio, Los Angeles e Nova York  e depois masterizamos em Nova York. “Foi um grande desafio, reinventar métodos de produção e abrir novos caminhos e experimentar num momento tão duro e de tantas incertezas, mas a gente enfrentou as dificuldades com criatividade e o cuidado necessário. O álbum ficou pronto entre fevereiro e março.”

Certamente foi uma grande conquista finalizar o álbum em meio a uma crise sanitária mundial.  E ter sido vacinada contra o coronavírus, para ela, foi uma dose a mais de esperança “Afinal, a população terá a oportunidade de viver novos tempos após a pandemia do novo coronavírus. Já tomei a primeira dose. A emoção que a gente sente além do alívio, né? Eu acho que as portas eles representam isso, as oportunidade e as mudanças que a gente espera que elas venham em breve para melhor, né?”, disse.

“As pessoas às vezes acreditam que está tudo fechado para elas, mas quando se abrem para as oportunidades, conseguem evoluir. Portas é sobre a coragem que precisamos ao fazer uma escolha”, postou Marisa em sua rede social

Parcerias mais que afetivas

Algo forte na personalidade e forma de trabalhar de Marisa é a atividade sempre em parcerias, seja em trabalhos solo quanto para o coletivo Tribalistas, integrado por ela, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Em ‘Portas’ não seria diferente. Parceiro ‘das anigas’ dividem com ela a autoria em algumas faixas: Arnaldo Antunes e Dadi Carvalho na faixa título e em A língua dos animais; Nando Reis em Praia vermelha; e Seu Jorge em Pra melhorar.

Mas neste álbum, prevalece e presença maior de novos parceiros, com um destaque especial para Chico Brown.  Filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque, o jovem compositor e multi-instrumentista assina com Marisa cinco canções, entre as quais Calma (o primeiro single), Déjà vu e Em qualquer Tom — uma clara homenagem a Tom Jobim.

Marisa destacou que conhece o Chico desde que nasceu, e que é um encanto da vida poder estar viva para vê-lo se tornar meu parceiro. E falou um pouco mais sobre a co-autoria em Calma. “Essa música a gente fez há uns quatro, três anos atrás, até fora desse contexto que a gente está vivendo. Mas alguns versos caíram como uma luva. Sim, pela ansiedade normal que todo mundo está passando. O Chico é multi-instrumentista e é um grande compositor, um grande letrista. Só tenho a agradecer por isso também, por ele ser filho dos Carlinhos. Que é bonito isso também: você pensar que surpreendente é a vida”, disse ao Fantástico.

Álbum visual e saudade

Além de toda a estrutura musical, o conceito visual do novo álbum foi emoldurado pela produção da artista plástica Marcela Cantuária, que Marisa já acompanhava há cerca de dois anos. “Suas pinturas foram uma das janelas que eu mantinha aberta para o mundo durante o isolamento”, contou a cantora. “Como o meio musical é majoritariamente masculino, quis, no álbum visual, tentar promover um equilíbrio e convidar uma parceira mulher… E ela criou essa série de pinturas chamada Portas. Com seu olhar e traço virtuoso, ela criou um imaginário que potencializou e deu forma às canções”.

Trabalho novo pronto, para deleite dos fãs, fica no ar a pergunta: quando o público poderá apreciar novamente um show de Marisa Monte? “Não temos uma data certa para voltar aos palcos. Ainda está difícil fazer planos. Dependemos da vacina e da maioria da população imunizada. Talvez no final do ano. Se tudo der certo em 2022, a gente vai ter a alegria de se encontrar de novo. Comecei minha vida na música com 19 anos e nunca fiquei tanto tempo sem cantar ao vivo e sem encontrar o meu público. Estou sentindo muita falta, não vejo a hora de poder cantar junto.”

Afinal, a população terá a oportunidade de viver novos tempos após a pandemia do novo coronavírus. Já tomei a primeira dose. A emoção que a gente sente além do alívio, né? Eu acho que as portas eles representam isso, as oportunidade e as mudanças que a gente espera que elas venham em breve para melhor, né?….

Fotos:  Leo Aversa e Divulgação