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Cristiana Oliveira:  “Eu sou a Juma da antiga geração”

Por Marcos Maynart

Eternizada como Juma Marruá na década de 1990, Cristiana Oliveira vem despertando a curiosidade do público sobre a nova versão de ‘Pantanal’, produzida pela TV Globo e que deverá ir ao ar em 2022. Ciúmes? Uma pontinha só. Para a atriz, que além da dramaturgia investe na área da moda e beleza como empresária, a Juma de 1990 sempre será sua. Cabe agora à jovem Alanis Guillen encontrar sua própria Marruá. Em entrevista à revista Mais Rio de Janeiro, Cristiana relembrou a personagem e contou um pouquinho sobre a vida de empresária.

Você começou sua carreira em um concurso de beleza, mas foi descoberta por Walter Salles Junior, que passou a bola para o Jayme Monjardim, à procura, na época, de uma atriz com características judias para a novela ‘Kananga do Japão’ (1989). Você se lembra da Hannah?

Como não lembrar? Foi meu primeiro papel. Nossa, faz muito tempo. São 32 anos. O tempo passa muito rápido. Acho que tudo isso foi muito natural. Primeiro fui modelo, mas trabalhava paralelamente como jornalista. Em 1988, como modelo cheguei a morar na Alemanha e na Espanha. Eu me cobrava muito na questão da beleza, de estar sempre bonita, sempre magra. A atmosfera do ambiente exigia tudo isso, mas eu tinha tendência para engordar. Cheguei a ser obesa antes de assumir essa coisa de beleza natural. Aí apareceu a Hannah de Kananga do Japão’e tudo mudou. Quando se faz novela e fica famosa, aparecem trabalhos e a gente tem que estar bonita. Isso tudo durou até 2010, quando fiz Insensato Coração e vivi a Araci. Aí, eu me transformei em prol da personagem.

E valeu a pena, por tudo isso que você passou?

Muito. Até aquele momento, eu tinha uma cobrança muito grande, porque todas as minhas personagens, más ou boas, sempre tinham um lado muito sensual, bonito. Independente da personalidade, eu era chamada para fazer comercial e sempre diziam: “ela é famosa, ela é bonita”. Tinha sempre isso. Essa questão da beleza física, estética, sempre permeou minha vida, sempre foi uma coisa importante. Não que eu, Cristiana, pessoalmente achasse que essa fosse a coisa principal, mas era uma coisa que me dava dinheiro. Eu estou falando fora da TV, porque na TV eu poderia ser bonita, mas se eu não fizesse bem a personagem, não iria adiantar nada.

Tanto que você virou empresária da moda e da beleza?

Então isso acabou sendo uma coisa muito natural. Só assim, vindo pro lado de cá há três anos e meio, eu entrei pra sociedade dessa empresa e fui entender o que a mulher realmente gosta: estar sempre bonita. Eu sempre tive cabelão, e apesar de todo o sofrimento que ele já passou, percebi que foi um herói, um sobrevivente. Sempre gostei de tratar meu cabelo. Aí, coincidentemente apareceu uma das marcas para eu assumir como sócia, com tratamentos capilares. Mas para isso, antes de entrar nessa área, comecei a pesquisar muito, estudar, fiz diversos cursos. E fui crescendo paralelamente com a experiência de mercado, que você vai vivenciando. Mas não deixei de ser atriz para ser empresária. Isso não existe. Eu simplesmente migrei, mas sou atriz. A beleza deixou de ser cobrança, apesar de ainda existir de uma outra forma. Meu objetivo é fazer com que as pessoas se sintam mais bonitas com seus cabelos bem tratados. Eu me preocupo com os nossos clientes. Quero que fiquem satisfeitos.

E a Juma Marruá da Manchete, foi um marco na sua carreira?

 Você acredita que em nenhum momento eu imaginei o sucesso que a Juma iria proporcionar? Eu tinha feito Kananga do Japão’, estava feliz com a experiência, não me preocupava de sair na rua e as pessoas não me reconhecerem. Mas a Juma foi diferente. Eu me apaixonei por ela quando li a sinopse, apesar de o Jayme ter me chamado para fazer a Muda. Mas como a história da Muda era muito vaga na sinopse e a Juma estava muito presente, eu acabei me apaixonando pela Juma e insisti muito em pegar esse papel. Olha que o Jayme negou até o final. Ele achava que eu não iria dar conta, que era uma personagem de muita responsabilidade. Mas parece que teve uma mãozinha do Benedito Ruy Barbosa para mudar o contexto. Mas até hoje eu não se foi o Jayme, o Benedito ou os dois juntos que resolveram que eu seria a Juma. Nossa, você não imagina como fiquei feliz.

Houve uma preparação?

Não! Houve sim muita intuição e compreensão de quem ela poderia ser. Quando eu cheguei ao Pantanal, um dia antes de gravar, que experimentei o figurino, olhei no espelho, reparti o meu cabelo no meio, descobri o olhar dela, que era meio pra cima, como uma onça mesmo – eu era meio “vesguinha” –, começou a surgir, tudo de uma forma muito intuitiva. Eu fiz e acabou dando certo. Foi uma grande surpresa quando eu cheguei do Pantanal, depois de nove dias das primeiras gravações, e tinha uma multidão me esperando com cartazes no Aeroporto de Guarulhos. Foi uma loucura. Foi tudo muito inesperado.

E hoje sente ciúme por saber que outra atriz vai interpretar a Juma?

É estranho, mas não é negativo. É tipo, minha história está lá atrás, há 32 anos. Ela ficou no coletivo, na história de uma geração. Agora, acho bacana apresentar a novela ‘Pantanal’ para uma nova geração que nunca existiu. A Juma agora vai ter outro estrondo. Vai ser maravilhoso. Eu não estabeleço comparação. A gente está falando de 1990 e de 2022: são 32 anos de diferença, é outra contemporaneidade. É bom levar essa história para a nova geração. Eu sou a Juma da antiga geração. É um projeto novo, com uma outra cara. Só que o Pantanal está ali, se você cuidar bem tem de tudo. Se o governo cuidar com fiscalização e as pessoas tiverem consciência da importância e do valor de manter um bioma desse em pé, o Pantanal vai estar ali sempre. Podem fazer seis remakes, já posso estar morta e continuarem fazendo remakes, mas o Pantanal estará ali, sempre lindo.

Você teria algum conselho para a Alanis Guillen, que vai interpretar a Juma?

Conselho não, porque cada pessoa compõe sua personagem à sua maneira. Eu acho que ela já deve ter compreendido que a Juma é uma personagem muito pura, apesar de a gente estar em uma outra era, num outro tempo. Naquela época, Juma não sabia o que era luz elétrica, não sabia o que era televisão. Agora estamos em 2022. Eu não sei como vai ser, mas tenho certeza de que ela fará da maneira mais verdadeira possível, com a alma que a Juma tem. A alma da Juma está ali na história. Se ela conseguir, e eu tenho certeza que vai conseguir, vai brilhar. Vai ser linda a nova Juma. E eu adoro a Alanis. Sempre torci por ela e ela sabe disso. Sabe aquela pessoa que te passa uma coisa boa? É uma menina inteligente e acho que vai fazer muito bem a Juma.

Fotos: Edu Rodrigues. Make: Dani Kober. Stylist: Marlon Portugal