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Rio de Janeiro / Cotidiano

Diogo Vilela: “É um alívio voltar a ouvir os aplausos”

De volta aos palcos cariocas com o espetáculo “Cauby, uma Paixão”, Diogo Vilela, diz que a retomada cultural viabiliza a sobrevivência do teatro depois do hiato provocado pela pandemia

Por Claudia Mastrange

É sempre um presente ver Diogo Vilela em cena, seja nas telas ou nos palcos. E mais ainda quando o ator vive um personagem icônico. É o caso do show teatralizado “Cauby uma Paixão, em que encarna Cauby Peixoto, que já lhe rendeu o Prêmio Shell de Melhor Ator. A produção estreia em dia 10 de junho, às 20h, no Teatro Dos Quatros, no shopping da Gávea, Rio de Janeiro, em curta temporada, e fica em cartaz até 31 de julho.

O espetáculo foi idealizado e realizado, com grande sucesso, durante o isolamento provocado pela pandemia, quando a incerteza pairava no ar e com o intuito de espalhar alegria e amor ao público, que andava necessitado de ternura em tempos difíceis e também de realizar um trabalho com qualidade artística. “Estávamos sem referência do que aconteceria após a pandemia. Com o sucesso de uma live que fiz, eu e Flávio Marinho fomos construindo essa produção, inserindo falas de Cauby, músicas…”, conta Diogo à mais Rio de Janeiro

O repertório é baseado no musical “Cauby! Cauby!”, já estrelado por Diogo, e acrescido de novas canções, que também foram gravadas e fizeram parte do repertório do cantor e que habita o imaginário coletivo até hoje. “Para interpretar o Cauby como personagem eu faço aulas de canto quase diariamente”, revela o ator, de 64 anos.

O resultado de tanta dedicação é que o show traz Diogo Vilela cantando divinamente, e conta também com um trio de músicos, bateria, sax e piano e direção musical de Liliane Secco. Com roteiro de Flavio Marinho, o show-teatro-musical,  e dirigido por Marco Aurélio Monteiro, percorre a carreira do cantor com curiosidades de sua vida artística, pontuado por músicas como “Conceição”, “A Pérola e o Rubi”, “Molambo”, “Samba do Avião”, “Eu e a Brisa”, “New York New York”, entre tantos sucessos gravados pelo artista, que tem um público cativo, que o ama e o faz inesquecível para nossa cultura.

Para Flavio Marinho, “o show parte da seguinte premissa: se vivo fosse, como Cauby reagiria a fazer um espetáculo nos dias de hoje, em condições tão especiais? No final do espetáculo, vemos que ele está mais vivo que nunca em nossos corações e na nossa lembrança”.

Além desse trabalho, Diogo aguarda a estreia da série “Eleita”, na Amazon Prime, com Clarice Falcão no elenco, e se prepara para encenar, pela primeira vez uma peça de Nelson Rodrigues, “A Mulher sem Pecado”, quem que interpretará que vive o machista Olegário. Pelo visto os fãs do artista terão muitas oportunidades de apreciar seu talento.

Confira nosso para com Diogo Vilela nesta entrevista exclusiva à Mais Rio de Janeiro.

Como é voltar aos palcos após a pandemia? Como está sentindo a retomada dos eventos culturais? A arte acalentou muita gente né? Como foi para você?

Claro que está sendo maravilhoso voltar aos palcos após tudo que passamos com a pandemia!  Essa volta tem um significado maior para todos da categoria, que é o de sobrevivência do teatro! Tive oportunidade de assistir vários espetáculos nessa volta e dá um enorme alívio ver as casas cheias e ouvir os aplausos do público! Talvez esse público tenha também valorizado a arte na ausência dela!

O espetáculo foi baseado no ‘Cauby, Cauby’, que você já apresentou lindamente e com o qual foi premiado. Como definiria agora a essência dessa nova produção?

Essa peça/show que é assim que estamos chamando nasceu na pandemia onde fiz uma live apenas cantando, exatamente por estarmos sem referência do que aconteceria! Com o tempo, e devido ao sucesso dessa live, que foi feita on line e assistida, na época, por 208 mil pessoas, fomos eu, e o Flávio Marinho, que escreveu a peça, apurando os bons resultados dessa live, inserindo falas da vida de Cauby, que no caso é contada por mim, mediado pelas músicas preferidas por nós de seu repertório! Então, o resultado foi esse que vamos apresentar aqui no Rio, mas que já foi visto com sucesso em outras capitais esse ano.

O que mais te surpreendeu ou fascinou quando começou a se preparar para encarnar nosso eterno ‘Professor’ e ao longo dessa trajetória de  mais de 15 anos homenageando nosso astro?

O Cauby sempre surpreende porque ele habita no universo das pessoas apaixonadas! Isso sempre foi a tônica de sua dedicação à música e é algo do qual me identifico bastante pelo amor ao teatro.

Como é exercitar seu ofício para dar vida, corpo e voz a esse mito do nosso cancioneiro? Ele é – também – um bom personagem? O personagem é o que mais te mobiliza, na arte?

Para interpretar o Cauby como personagem eu faço aulas de canto quase diariamente! Sou barítono como ele e canto no mesmo registro de voz tentando chegar bem perto dele, tanto na voz falada como a cantada! Mas não faço uma imitação! O que poderia ser. No meu caso, eu faço uma espécie de mimese eu acho… Esse trabalho é muito delicado tecnicamente! Precisa de concentração máxima!

Cauby te assistiu em cena. Como era sua relação com ele? Que trocas tiveram?

Cauby foi ver a primeira montagem da peça em 2006. Ele adorou de verdade… Depois fizemos uma remontagem a pedido dele, que muito nos incentivou a retomarmos a peça em 2018. Agora, eu acho que estou mais amadurecido com a técnica e talvez ele fosse gostar como antes.  A princípio e também pelo espaço, o espetáculo soa intimista, o que é a cara dele, que era uma pessoa muito afetuosa e empolgante!

 

O ator, na pele do cantor Cauby Peixoto (Foto: Victor Zorzal )

Desde que encarnou Nelson Gonçalves em “Metralha” você leva o canto ainda mais a sério…  No Brasil ainda há uma cobrança extra sobre o ator que também canta ou também dança, como se houvesse limite para a arte?

Existiu esse mito no passado, de que quem canta não representa mas agora, nesse momento, creio que tudo mudou. Principalmente para quem faz teatro! Temos muitos musicais em cartaz e vários atores são cantores excelentes e isso é muito bom!

Como vê o momento atual da cultura no país e a importância do legado que artistas como você transmitem para as novas gerações?

Eu sempre aprendi com os que vieram antes de mim e isso é uma tônica do teatro e se chama  legado . O teatro vive do aprendizado e os atores de antes nos ensinaram muito. Fazer Teatro é um ofício que jamais ficará anacrônico porque ele, embora tenha raízes na antiguidade, para ter bom resultado, em minha opinião, precisa ter sempre ter algo de contemporâneo!

Quem na atualidade admira e tem acompanhado no cenário artístico?

Eu admiro a todos que estão fazendo sucesso porque isso valida o teatro.

Fale um pouco sobre a e série “Eleita”?

Fui convidado por Clarisse Falcão e a nossa diretora Carol Jabor para fazer “Eleita” ainda saindo da pandemia! Eu adorei fazer a série que deve entrar em outubro. Não quero, nem posso dar spoiler! Mas achei o trabalho excelente de muita qualidade, com elenco de jovens talentosos e ainda por cima, contracenei com minha amiga e colega Cristina Pereira, o que não acontecia desde 1987, quando fizemos sucesso juntos na novela “Sassaricando”, de Silvio de Abreu! Foi muito bom.

Como vê essas mudanças nos meios da comunicação? Com streaming, a era digital e as redes sociais? Acha mesmo uma ‘realidade paralela’?

Eu não posso prever o que vai acontecer. Estamos mudando muito. De minha parte acho que as redes sociais são sim uma realidade paralela. Porém ela trás com ela o prenúncio de como vamos nos relacionar daqui a alguns anos! Se isso vai ser bom para nós, temos que esperar para ver e avaliar. No momento, a mudança ainda está se estabelecendo em nós… Espero que o seu código não venha nos desumanizar de vez!

Qual a expectativa para estrelar pela primeira vez uma montagem de Nelson Rodrigues, vivendo o machista Olegário em “A Mulher Sem Pecado”? E ainda hoje o machismo segue na pauta… É uma demanda necessária?

Sempre quis fazer Nelson Rodrigues no Teatro e está chegando esse momento. Estou muito feliz e apreensivo! Acho “A Mulher Sem Pecado” carregada de símbolos dos quais questionamos hoje! E acho sim uma peça necessária, por expor várias questões importantes de se falar!

Cinco décadas de arte

Ele nasceu José Carlos Monteiro de Barros, em Botafogo, no Rio de janeiro. Criado em Vila Isabel, na zona norte da Cidade Maravilhosa.  E foi com seu nome de batismo que Diogo Vilela estreou na telinha, aos 12 anos, na novela “A Ponte dos Suspiros” (1969),  escrita pelo dramaturgo Dias Gomes com o pseudônimo de Stela Calderón, exibida na TV Globo. Na época, o menino já ganhava dinheiro com apresentações públicas do seu teatro de marionetes, exercitando a imaginação trazida desde a tenra idade.

A atividade nascida como brincadeira abriu caminho para sua trajetória profissional. José Carlos virou Diogo e ganhou reconhecimento nacional e prêmios por seus inúmeros trabalhos na TV, no cinema e nos palcos. O ator falou sobre seu primeiro dia em um estúdio de gravação da Globo: “As primeiras coisas que percebi foram o cheiro do estúdio e os cenários. Sempre fui louco por cenários”, declarou ao site Memória Globo, em 2012.

Da estreia para hoje, já se vão mais de 50 anos e carreira, com uma extensa relação de trabalhos, que vão do drama ao humor com excelência ímpar. O ator atuou em uma série de novelas, minisséries e programas da linha de shows, sem jamais abandonar os palcos.

“Ser ator não é uma questão que surge de uma hora para outra na minha vida. Na verdade, nunca me senti fora da profissão, nem começando. Tudo aquilo já correspondia ao meu imaginário. Tinha um teatro de marionetes igual àquele do filme “A Noviça Rebelde” e fazia espetáculos desde pequeno, adaptando livros de contos”

Diogo Vilela atuou em novelas como “Coração Alado” (1980), “Guerra dos Sexos” (1983), “Sassaricando” (1987), “Rainha da Sucata” (1990), e “Deus nos Acuda” (1992), “Quatro por Quatro” (1994) e “Salsa e Merengue “(1996), além de produções como o icônico TV Pirata (1988).  Também atuou em “O Auto da Compadecida (1999)”, “A Grande Família (2006) “e “Pé na Cova” (2014). No cinema, participou de filmes como “Bete Balanço” (1984), “ O Auto da Compadecida” (2000),  “O Coronel e o Lobisomem” (2005), “Irma Vap – o Retorno (2006) e mais recentemente “D.P.A 2 – O Mistério italiano” (2018).

Antes de brilhar como Cauby, Diogo encarnou com maestria outro cantor: em 1996, interpretou Nélson Gonçalves na peça “Metralha”. Em 1998, conquistou seis prêmios com o espetáculo “Diário de um Louco”, entre eles  Prêmio Sharp, Prêmio Shell e o Mambembe de melhor ator. Bravíssimo!

Foto: Divulgação