Autoestima sempre nas alturas e talento para dar e vender, ela brilha em todas as artes e constrói uma trajetória de sucesso
Por Claudia Mastrange
Fabiana Karla é natural do Recife, mas sua arte conquista o mundo. Atriz, humorista, apresentadora, dubladora, diretora e escritora, ela é daquelas artistas que não se cansam de abusar e explorar suas potencialidades, para deleite de público. “Entendi que a arte me completava quando eu acessava uma zona de conforto, de alegria, de felicidade, de contato com o próximo através de alguma expressão artística. Fosse cantando, fazendo rir ou lendo um livro”, conta ela, que em agosto volta à telinha na série “Central de Bicos”, no canal Multishow, e recentemente assinou contrato com a Amazon, para desenvolver projetos como atriz, apresentadora e produtora.
Aos 46 anos, Fabiana é conhecida também por possuir uma grande autoestima e saber lidar com suas formas de maneira mais que positiva. Já foi capa de diversas revistas de moda a catálogos do segmento,e tornou-se referência no mundo Plus Size. “Minha família polia muito a minha autoestima. Então eu acho que isso foi um exercício feito de casa e eu levei pra vida”, conta ela, que recebe muitas mensagens de mulheres que se inspiram em sua postura e trajetória.
A mil por hora, com muitos projetos e produções, ela também se destacou atuando em novelas, como em “Gabriela’, e “Amor à Vida” e seriados como “A Grande Família”. No cinema, foi premiada pelo Los Angeles Brazilian Film Festival, na categoria “Melhor Documentário” pelo longa “O Caso Dionísio Diaz”, cuja direção é sua e de Chico Amorim. Já lançou os livros “O Rapto do Galo”,“Gordelícias” e está preparando “Mães com Açúcar”.
Mas sua vertente mais festejada pelo povão é a do humor. Fabiana se destacou no extinto “Zorra Total”, em que criou os bordões: “Isso não te pertence mais!”, “Desenrola, carretel” e “Isso pode”, vivendo Gislaine, Dra. Lorca e Lucicreide ( personagem de sua autoria). “Nos tempos de hoje, principalmente, rir é uma resistência, como diria o querido Paulo Gustavo”, diz a mãe amorosa de Laura, Beatriz e Samuel, em fase de paixão total com o maridão Diogo Mello. Confira o papo delicioso com Fabiana Karla, nesta entrevista à Mais Rio de Janeiro.
Em que momento você entendeu que arte era a sua praia e era com ela que você deveria viver sua vida?
Eu entendi que a arte me completava quando eu acessava uma zona de conforto, de alegria, de felicidade, de contato com o próximo através de alguma expressão artística. Fosse cantando, fosse fazendo rir, fosse lendo um livro. Então a arte preenchia algum vazio que existia dentro de mim. E era tão forte a arte na minha vida que eu utilizava dela até na escola. Porque sempre que tinha algum trabalho pra apresentar eu dava um jeito de fazer de uma forma teatral. Fosse com música, fosse inventando uma peça, um esquete. Eu tocava na banda da escola, participava de concurso redação. Então sempre trouxe a arte pra minha vida. Acho que isso foi um movimento que eu não percebia. Acho que eu fui abduzida pela arte. A arte me abraçou, me acolheu.
Como fortaleceu sua autoestima – que acho que já nasceu com você rs – para encarar e conquistar seu espaço num mercado que sempre trabalhou com padrões limitados?
Eu acredito que o fato de eu ter sido a primeira neta, a primeira filha pode ter me ajudado muito nisso. Porque a minha família polia muito a minha autoestima. Então eu acho que isso foi um exercício feito de casa e eu levei pra vida. O que foi muito bom, né? A primeira mulher que você conhece na vida é a sua mãe, o primeiro homem é o seu pai e os dois me deram uma base de carinho, de afeto, de reconhecimento e sempre motivaram que eu fosse inteligente, porque a inteligência conferia todas as outras belezas. Então acho que isso foi um movimento que eu tive de família.
Você começou a ter visibilidade nacional com o humor. Qual o segredo de arrancar tão facilmente risadas do público? Também acredita que ‘rir é um ato de resistência’, como dizia Paulo Gustavo? O povo brasileiro está precisando rir mais?
Olha, eu acho que a comédia pra mim sempre foi uma ferramenta, porque sempre usei do humor pra rir de mim mesma, fazer minha própria piada, me divertir. Isso foi um movimento que eu fiz sempre na minha vida. O humor sempre foi uma ferramenta importante pra mim e acho que pra todo mundo, né? Porque é uma ferramenta de protesto. Mas eu acredito que escolhi o humor exatamente porque gostava de ver a leveza nas pessoas, o sorriso, a gargalhada, isso sempre me deixou muito feliz. E eu exercitava isso na minha família. Então acho que o humor foi um caminho que me fortaleceu também. E acho que sim, perceber as pessoas é um ótimo caminho pra quem faz humor. Gosto de gente. Acho que eu consegui arrancar risadas facilmente o riso, se é que você me permite dizer que foi facilmente, foi facilmente porque eu percebo as pessoas. Paro pra olhar e acho que as pessoas gostam de rir delas mesmas. Então quando a gente pontua algo engraçado de uma pessoa num sentido legal e leve e positivo eu acho que a pessoa ri de si mesma. Então eu acho que sim, é um ato de resistência como dizia nosso querido Paulo Gustavo. Nos tempos de hoje, principalmente, rir é uma resistência. Você mostrar pras pessoas que, independentemente do que está acontecendo, a sua nota de alma, o que tem dentro de você não morrer.
Mesmo com essa veia do humor latente, você também atuou como diretora, ganhou prêmios… Sua personagem Lucicreide bombou em Marte (rs). Cinema é também uma paixão?
É eu amo cinema, amo muito a forma que é feita, a engrenagem, a luz, o som, a tela gigantesca… É tudo muito fascinante no cinema. E é uma honra conseguir parceiros pra fazer isso comigo. A Downtown Filmes abraçou os meus filmes, com o Bruno Weiner. Tenho a alegria de ter tido dois parceiros maravilhosos que produziram comigo que é o Tom Nogueira e o Rodrigo César que também dirigiu o “Lucicrede vai pra Marte”. E é muito é uma tarefa hercúlea fazer cinema no nosso país, mas a gente resiste, persiste e no final das contas leva histórias lindas pra essa tela gigantesca que encanta as pessoas. Então eu tenho muita alegria em fazer cinema, minha relação com o cinema é uma relação de amor, sabe? De alegria. Eu amo fazer.
Você também brilhou em algumas novelas, gostaria de atuar em uma produção como Pantanal? Aliás, curte a novela? Gostaria de encarnar mais Juma, Filó ou Bruaca?
Com certeza eu ficaria muito honrada com o convite porque Pantanal traz uma brasilidade que encanta. Mostra muito da nossa floresta né? Isso deixa a gente orgulhoso de ser brasileiro. E mas eu acho que eu tenho todas as três mulheres dentro de mim. Tenho uma Juma Marruá, tenho a Filó e tenho a Bruaca. Mas com certeza eu acho que eu me identificaria mais em fazer a Bruaca.
Como foi cantar com a filhota Laura no Popstar? Ainda pretende explorar mais, entre as tantas artes que domina, a vertente cantora?
Olha, foi uma delícia, mas também foi muito nervoso. Porque eu sei o quanto ela canta, ela é formada em produção fonográfica pela Faculdade Belas Artes e eu sei quanto é importante a música pra Laura. E eu ficava ali pensando, meu Deus, eu estou na frente, ela está como becking. Eu sei que backing, às vezes é muito mais do que o próprio própria cantora, né? Porque sabe fazer todas as firulas de vozes. Mas eu queria muito que ela tivesse na frente ali. E aí eu ficava olhando pra ela às vezes e me desconcertava, ficava nervosa, emocionada. Mas foi uma experiência linda. Eu espero que um dia gente possa unir as nossas vozes. Seremos duas notas musicais no palco Fá e Lá. Vai ser muito divertido.
Vamos relembrar um pouco o projeto ‘Gordelícias’, que ganhou um destaque nacional e certamente foi uma injeção de vida e autoestima para muitas mulheres? Como foi a repercussão?
Eu acho que foi um projeto lindo, super bem aceito, escrito por nós quatro. E que a gente se divertiu muito, batendo papo, conversando, dividindo histórias. E acho que quem leu identificou cada uma de nós, se divertiu e levou um pouquinho da gente. Pro coração e para a vida. Eu acho que a gente quis também trazer uma leveza dentro desse contexto. Que às vezes é tão solitário pra muitas mulheres. Porque os movimentos abraçam muito o feminismo, falam muito sobre o racismo, mas esquecem da gordofobia.Então eu acho que a gente quis trazer um de leveza dentro disso tudo, mas falar um pouco também sobre a gordofobia. E as experiências de cada uma de nós. Então acho que foi super bem aceito.
As mulheres costumam falar com você para pedir dicas, te elogiar, falar como você representa tantas brasileiras?
Sim, eu recebo muitas mensagens pelo direct, no Instagram. Recebo muito carinho quando ando na rua, no aeroporto, mulheres vem conversar comigo, me abraçam, me falam da minha importância. Isso tudo é muito natural, não é nada pensado. Hoje, pela quantidade de pessoas que falam com a respeito disso, eu tenho uma responsabilidade maior. Então tenho criado algumas coisas mais direcionadas, lembrando dessas pessoas que falam comigo e que consomem esse meu material. Acho que é importante a gente ficar atento também pra quem a gente está falando, porque hoje em dia está bem difícil a gente saber pra quem a gente está falando. E eu acho que isso é um retorno muito importante pra mim.Saber que essas mulheres estão olhando pra mim e se identificando. É uma é um deleite mas também é uma grande responsabilidade.
“Mães com Acúcar” será sua terceira obra né? Fala um pouco dessa publicação.Sua avó é uma inspiração? Que doces lembranças você tem da infância na cozinha?
Pois é eu estou segurando muito ainda porque o livro está em andamento. Paramos um pouco as pesquisas, mas eu estou me empenhando pra continuar porque não quero deixar de fazer esse livro.E minha avó realmente é uma inspiração. Ela está com 95 anos. Ontem mesmo me ligou falando de um sonho que teve, que ela escrevia um roteiro. Ela é muito lúcida, muito alegre, muito feliz, é realmente uma grande inspiração. E eu lembro muito quando a gente cozinhava bolo de massa, porque ele tem um cheiro muito específico. E ela brincava comigo que a gente torcia o pano pra tirar assim aquele leite da massa de mandioca. Ela passava no meu nariz aquilo me irritava e a gente ria e era muito especial.
Da pra adiantar um pouquinho o que vem por aí em “Central de Bicos”? Você e Paulinho Gogó juntos, já são garantia de riso fácil…
Central de Bicos é uma alegria, é uma diversão. Pra mim foi assim um parque de diversões, sabe? Porque tem muita gente talentosa, o elenco é maravilhoso e eu me diverti muito com o Paulinho Gogó. Eu espero que isso passe para as telas. Porque quando a gente tem uma coxia maravilhosa, isso normalmente passa quem está assistindo. E com certeza vocês vão se divertir muito com as peripécias de Paulinho Gogó e Meg Maçaneta. Só pra situar um pouco a Meg Maçaneta é irmã da Kelly e herdou um pedaço da casa também. Na sala tem a associação de moradores, que é conduzida pela Rosane Gofman, e na garagem tem a Central de Bicos do Paulinho Gogó.Ela fica desesperada e quer muito que essas pessoas saiam dessa casapara ela herdar sozinha. Só que cada um tem uma porcentagem da casa. Então não dá. E ela fica sonhando em sabotar essa central de bicos pra que ela possa fazer a piscina dela na garagem,como ela sonha.
Já está com projetos adiantados para a Amazon? Será humor ou outra linha? O streaming abriu um espaço gigantesco para a classe artística, técnicos… Como vê esse mercado?
Pois é, na Amazon já tenho alguns projetos engatilhados. Estou em três, como convidada, e vou começar a elaborar os meus. Mas infelizmente é tudo surpresa. Infelizmente não. Felizmente porque o público merece surpresas. E aí tem humor, tem filme, tem reality, enfim. Tem várias vertentes em que eu vou me divertir muito e vocês também.
Você é uma usina de ideias, criatividade e talento. O que te inspira? Como vê sua vida e trabalho nos próximos anos?
Acho que o que me inspira é a vida. Então por isso que eu me dou ao direito de viajar, de estar olhando pessoas e a pandemia me cortou muito isso porque eu gosto de estar perto de gente. Gosto de observar, de respirar aquele mesmo ar, de olhar a roupa, o jeito de falar de vestir o que come. Então, gosto muito de apreciar a vida pra poder ter conteúdo, munir os meus personagens. E a pandemia de certa forma me tolhiu muito nesse aspecto. Mas eu continuo vendo, observando e tentando tirar o melhor da vida pra emprestar para os meus personagens. E é isso. O que me inspira é gente. E eu espero que os trabalhos nos próximos anos venham cheios de inspiração porque estou um munindo do jeito que eu posso. Fiz há pouco tempo uma viagem tudo com muito cuidado né? Mas é preciso eu preciso meu espírito precisa ser alimentado, de outras culturas, de gente. Se não sufoco sabe, implodo. Então eu preciso disso pra me inspirar.
É engraçado porque tudo que eu olho, vejo uma pauta, vejo uma história.Acho que eu puxei muito da minha avó, uma contadora de histórias nata. E tudo que ela olha também vê como se tivesse uma lente diferente. E enxergar naquele lugar. Então tenho muito disso. Por isso tenho várias ideias. Mas não tenho ideia sozinha. Tenho um grupo que me ajuda muito, tenho minhas salas criativas, faço salas de roteiro. Tenho o Chico Amorim, um parceiro de vida. A gente é muito parecido na forma de pensar, de olhar. Então não faço nada sozinha. Tenho meus anjos da guarda que me ajudam.
Como é a Fabiana mãe? Como foi conduzir essa trajetória tão linda e intensa e dar conta de três filhos?
Olha, Fabiana mãe, eu acho que é parceira, é atenta, é preocupada, é nervosa. Todo mundo lá em casa diz que a minha frase é “o que houve?”. Porque eu quero sempre resolver. Só que os meus filhos estão crescidos e às vezes esqueço disso. Mas é isso. Eu acho que eu sou protetora também sou aquela que dá vara e ensina a pescar, sabe? Incentiva, apoia. E tenho esse retorno também deles. São pessoas que eu criei pra vida, pro mundo, mas que têm um diálogo aberto, que ainda se importam com as minhas opiniões. sabe? Faço o máximo que eu posso estar com todo mundo perto. Faço da minha casa realmente um ninho. Sou aquela mãe que providencia comida que eles gostam. Que deixa o quarto do jeito que gostam. Que promove encontros em família. Que tenta viajar junto. Mas que respeita a individualidade de cada um deles.
Nessa vida acelerada e com tantas atividades, como se cuida?
Eu sou uma pessoa que me cuido muito porque conheço muito bem meu corpo pra poder dar conta de tudo que eu faço. Não digo que eu sou muito formiga pra poder ser cigarra também. Que eu adoro ser cigarra. Mas pra isso a gente tem que ser formiga. Então para eu manter a minha energia, meu humor, minha saúde e desfrutar de todas as alegrias da minha vida e de todas as situações de trabalho, de enfrentamentos que a gente tem no dia a dia ,procuro estar bem amparada porque senão você não dá conta. Então de manhã eu tomo sempre um shot de açafrão, mel, própolis, limão pra começar o dia.Tenho o apoio de minha gerontóloga que é doutora Jaqueline Amar, que vai me surpreendo com tudo que eu preciso, com os meus hormônios, porque eu já entrei na menopausa.Gosto muito de coisas naturais, então carrego na bolsa óleos essenciais, para dar uma alegria, uma tranquilidade. Gosto ainda do escalda-pés, gosto do bem-estar sabe? Faço minha terapia e é isso eu procuro sempre eh estar fazendo meus check-ups. De exame de sangue pra ver se está tudo bem, ver o que está faltando, as vitaminas. E é isso. Me cuidando sempre pra continuar vivendo bem e deixando a minha locomotiva ligada e full time, né? Sem ter surpresas.
Cuido da minha pele. Tento tomar muita água, porque eu tenho dificuldade. Sinto gosto, eu sinto cheiro e água. Então às vezes a água pesa muito, então eu vivo à cata da água perfeita e espalho garrafas por onde eu passar. Tento estar com a pele boa, dormir melhor, para estar com um bom humor. O que disserem pra mim que faz bem eu estou de olho, eu estou sempre por perto. Porque eu acho que bem-estar para o corpo é sempre bem-vindo.
Como vai o amor? Recentemente você deu até dicas de namoro à distância no Insta…O casal tem que manter aquela chama o tempo todo, e mesmo de longe né?
Ah o amor está indo, está seguindo, né? Eu e o Diogo, a gente se completa muito, se diverte. A gente é intenso. E isso é muito bom porque também somos muito parceiros. Então a gente está se divertindo. Ele mora em São Paulo e eu venho visitar em São Paulo; e eu morando no Rio, ele vem me visitar no Rio. E a gente se encontra e viaja juntos. Eu acho que a gente resolveu desfrutar da vida e isso é muito bom.
Faz muito bem pra vida, pra saúde e quem deu as dicas de namoro à distância foi ele. Só repostei, mas quem deu a dica foi ele. O Diogo é muito romântico, é muito atencioso e eu nessa correria toda.Eu para um lado, ele pro outro também, que ele produtora.Então ele corre pra um lado, eu corro pro outro, mas a gente sempre dá um jeito de acalentar o amor da gente, de poder cuidar. Da nossa vida amorosa, do nosso momento.A gente sempre dá um jeito de ter o nosso momento juntos.
Fotos: Marco Antônio/Johnny Moraes/Sophia Chiaradia