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Rio de Janeiro / Cotidiano

Milton Nascimento: “É despedida dos palcos. Da música, jamais”

Milton Nascimento  faz turnê de despedida dos palcos com show que promete ser inesquecível para fãs do Brasil e do exterior

Por Claudia Mastrange

Um artista da magnitude de Milton Nascimento não deveria sair de cena. Mas o cantor e compositor decidiu encerrar sua trajetória nos palcos e anunciou uma turnê de despedida. E com todas as honras. Afinal, são 60 de anos de carreira e oitenta de vida. E para que esse ciclo ficasse completo, o artista declarou que irá prestar uma última homenagem aos fãs com uma turnê internacional que promete ser épica: “A Última Sessão de Música”.

​“Eu jamais poderia encerrar essa parte da minha vida de tantos anos na estrada sem homenagear aqueles que me acompanham esse tempo todo: os fãs. E essa turnê foi pensada especialmente pra vocês!”, explicou Milton, no material de divulgação da turnê.

Após quarenta e três discos gravados, cinco prêmios Grammy e o título de Doutor Honoris Causa em música pela Universidade de Berklee, em Boston, Milton se prepara agora para cantar seus maiores sucessos numa turnê que vai passar por Brasil, Europa e Estados Unidos. Serão 17 apresentações em cinco países.

O show de abertura está marcado para o dia 11 de junho, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Não haverá vendas dos ingressos tradicionais para este evento O evento será fechado para convidados e outras 400 pessoas que comprarem uma NFT – arte digital criptografada – com o desenho de montanhas mineiras feito pelo próprio Milton.

​A arte desse NFT Ticket Pass e  gravura o acompanham Milton desde a infância, quando, ao participar de uma atividade de artes na escola, o menino Bituca foi traçando linhas sob o papel, para recriar o relevo das montanhas de Minas. Nascia ali um dos desenhos mais famosos da MPB, a Serra de Três Pontas, com seu trenzinho e o sol característicos. Mais tarde, em 1976, este desenho daria origem à capa do álbum “Geraes”.

O show final de “A Última Sessão” vai acontecer no estádio Mineirão, na região da Pampulha, em Belo Horizonte, no dia 13 de novembro e certamente vai deixar um gostinho de quero mais e já de saudade nos fãs desse artista memorável.

E o que a sensacional voz de Milton vai entoar nesta turnê? De acordo com Milton, “seria impossível fazer essa despedida sem colocar no repertório músicas de todas as fases da carreira”. E completa: “a gente quer proporcionar uma experiência única e emocionante, do começo ao fim”, diz o artista. Sobre o repertório da turnê, o cantor e compositor já adianta que clássicos como “Ponta de Areia”, “Encontros e Despedidas”, “Travessia”, “Cio da Terra” e “Nos Bailes da Vida”, não podem faltar no set list. “O resto é surpresa”, deixa no ar.

 

Nos shows, ele estará acompanhado de Wilson Lopes (guitarra e violão), Lincoln Cheib (bateria), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Zé Ibarra (voz e violão), Ronaldo Silva (percussão), Alexandre Primo Ito (arcos) e Frederico Heliodoro (voz e baixo).

Milton fez questão de acalmar os fãs, em depoimento no vídeo de anúncio da turnê, garantindo que este não será o fim de sua carreira. “Só dos palcos mesmo. Da música, jamais”, falou sobre a aposentadoria.

No vídeo, o artista também destaca a importância de Minas Gerais na sua história. “Me considero o mais mineiro de todos os cariocas. Digo isso porque foi em Minas Gerais que tive o maior encontro da minha vida. O encontro com a música. Diante das montanhas de Minas, compus as minhas primeiras canções. Muitas delas feitas em parceria com grandes amigos e nunca mais parei”.

O cantor também cita o disco O lendário Clube da Esquina, criado em parceria com amigos que conheceu durante o tempo em que morou em Belo Horizonte, como Wagner Tiso, Márcio e Lô Borges, Toninho Horta e Beto Guedes. O cinquentenário do álbum, celebrado em março deste ano, foi tema de uma série de reportagens e podcasts da Record TV Minas.

“Em seis décadas, a música me levou aos quatro cantos do mundo. Nesse caminho, encontrei gigantes como Tom Jobim, Elis Regina, Agostinho dos Santos, Quincy Jones e Eumir Deodato”, conta Milton sobre alguns dos músicos com quem já trabalhou. A lista continua com nomes internacionais como Herbie Hancock, Wayne Shorter, Mercedes Sosa, Pat Metheny, James Cat Stevens, Bjork, Duran Duran e Paul Simon.

Ingressos esgotados em dois dias

A turnê “A Última Sessão de Música” começou oficialmente a vender ingressos no último dia 19 de maio, disponibilizando, entre outros, ingressos para os primeiros shows, na Cidade das Artes, no Rio, no Torino Jazz Festival, na Itália, além do Union Chapel London, na Inglaterra,.  Em cerca de 6 horas, as duas datas anunciadas no Rio de Janeiro, as duas em São Paulo e a apresentação no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, esgotaram. Foram vendidos mais de 35 mil ingressos.

Pouco depois, ainda no dia 19, a produção de Bituca anunciou mais duas datas em São Paulo, que esgotaram tão rápido quanto as primeiras. “A Última Sessão de Música é a turnê que vai marcar minha despedida dos palcos. Da música, jamais. E eu espero você para concluir essa travessia comigo”, finaliza o cantor.

Depois desta pré-estreia, em 11 de junho, no Rio, a turnê segue para uma série de shows na Europa a partir de junho, passando por Itália, Inglaterra, Portugal e Suíça. Já no Brasil, Milton tem datas confirmadas no Rio de Janeiro (6 e 7 de agosto de 2022, no Jeunesse Arena), São Paulo (26 e 27 de agosto, e 1 e 2 de setembro de 2022, no Espaço Unimed – antigo Espaço das Américas) e Belo Horizonte (13 de novembro de 2022, no Estádio Mineirão).

Ícone da MPB

Milton Nascimento e Elis Regina (Foto: Reprodução)

Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro, no dia 26 de outubro de 1942. Ainda criança já mostrava interesse pela música. Com dois anos ficou órfão de mãe, passando a morar com a avó em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Com seis anos foi morar em Três Pontas com os pais adotivos, o bancário e professor de Matemática Josino Campos e a professora de Música Lília Campos.

Foi apelidado de “Bituca” ainda criança, por fazer um bico quando estava contrariado, numa referência aos índios botocudos. O menino começou a gostar de música por influência da mãe, que havia estudado com o maestro Heitor Villa Lobos. Aos quatro anos, ganhou uma sanfona de dois baixos, e desde cedo explorou sua voz. Aos 13 anos ganhou um violão e tornou-se crooner do conjunto Continental de Duilio Tiso Cougo, grupo musical de baile de Três Pontas.[3]

Aos 15 anos, Milton criou com Wagner Tiso, seu amigo de infância, o grupo vocal Som Imaginário. Logo depois criaram o W’s Boys, com Milton, Wagner, e seus irmãos Wesley e Wanderley. O grupo se apresentava nos bailes da região. Nessa época, 1962, gravou sua primeira canção “Barulho de trem”.

Em 1963, Milton mudou-se para Belo Horizonte, para fazer o vestibular para Economia, mas a música predominou. Na época, formou com Lô Borges, Beto Guedes, Márcio Borges e Fernando Brant, o Clube da Esquina. Tocando em bares e clubes noturnos, começou a compor com mais frequência. São dessa época as composições “Novena” e “Gira Girou” (1964), ambas com Márcio Borges.

Em 1966 Milton escreveu, em parceria com César Roldão Vieira, as canções para a peça infantil “Viagem ao Faz de Conta” de Walter Quaglia. Em 1967, segundo o trecho da contracapa do disco Milton e Tamba Trio: “Milton Nascimento entrou no estúdio acompanhado pelo ‘Tamba Trio’, no Rio de Janeiro, em 1967, para gravar seu primeiro disco. O encontro de ‘Milton & Tamba’ com os arranjos de Luizinho Eça fazem de ‘Travessia’ um álbum definitivo e eternamente moderno.”

No ano anterior,1966, foi para São Paulo, mas estava difícil conseguir que suas músicas fossem gravadas. A sorte mudou em setembo daquele ano,  quando conheceu Elis Regina, que gravou sua composição “Canção do Sal” .

Em 1967, Milton teve três músicas classificadas no Festival Internacional da Canção da TV Globo, que consagrou o cantor como o melhor intérprete, e a música “Travessia”, composta em parceria com Fernando Brant, conquistou o segundo lugar no festival. A outras duas canções classificadas foram “Maria, Minha Fé” e “Morro Velho” que ficou em sétimo lugar. Nesse mesmo ano lançou seu primeiro disco solo e realizou diversos shows.

Em 1968, deu início à sua carreira internacional, excursionando pelos Estados Unidos, onde gravou o disco “Courage”. Em 1972 lançou, junto com Lô Borges, o álbum “Clube da Esquina”.

Com o sucesso, Milton gravou com Wayne Shorter e Sarah Vaughn e, em 1994, em “Angelus”, reuniu vários convidados internacionais, como o ex-vocalista do grupo inglês Yes, John Anderson.

Com uma longa carreira, Milton lançou 43 álbuns e conquistou vários prêmios, entre eles, quatro Grammy. Seu nome esteve diversas vezes na lista dos melhores das publicações “Down Beat” e “Billboard”. Criou clássicos da MPB como “Travessia”, “Cais”< “Nada Será como Antes”, “Fé Cega, Faca Amolada”,, “Ponta de Areia, “Maria, Maria”, “Canção da América” e “Caçador de Mim “

Em 2013, o cantor lançou o álbum “Uma Travessia, 50 anos de Carreira Ao Vivo”. Em 2015, Milton Nascimento lançou o CD “Tamarear”, junto com Dudu Lima Trio, uma homenagem aos 35 anos do Projeto Tamar, que trabalha na proteção das tartarugas marinhas.

Agora, nesse 2022 com reabertura da programação cultural no pós-pandemia, ele  anuncia a turnê de despedida dos palcos. Que sua voz não se cale e a música não pare, porque a arte desse nosso artista, que se diz o mais mineiro dos cariocas, é eterna.

Fotos: Marcos Hermes