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Rio de Janeiro / Esporte

Treinadores sofrem com imediatismo do futebol brasileiro

Foto: Reprodução/SantosFC

Por: Luhan Alves (Sob supervisão de Claudia Mastrange)

Se tem uma coisa que tem durado pouco no futebol brasileiro é a passagem dos treinadores pelos clubes. E o que mais tem chamado atenção é a cobrança, muitas vezes de forma exagerada. O caso mais recente desse apelo pelo imediatismo no trabalho dos técnicos é a saída do argentino Ariel Holan, da equipe do Santos. Ele pediu demissão tendo comandado o clube paulista apenas 12 vezes, desde a sua chegada em fevereiro. Segundo o presidente do Peixe, Andres Rueda, alguns torcedores soltaram rojões na frente da casa do treinador.

É evidente que Holan não saiu do Santos apenas por esse fato lamentável. A pressão pelo resultado imediato, calendário apertado, pouca perspectiva de contratações, contribuíram para a decisão do argentino. E toda essa questão só atrapalha e atrasa o desenvolvimento e interesse pelo futebol brasileiro. Os treinadores não conseguem ter tempo para implementar sua metodologia de trabalho, conceitos táticos, algo que prejudica não só os clubes como também os jogadores.

Ariel Holan teve pouco tempo de comando na equipe do Santos Foto: Reprodução/SantosFC

Nem o contexto atual de pandemia que vivemos é capaz de mudar essa péssima cultura do futebol brasileiro. O início de temporada no país tem jogos seguidos, compromissos de Estaduais a cada 48 horas, times reservas em profusão, tempo quase nenhum para treinar, receita bem reduzida muito por conta dos jogos sem público nos estádios, entre outros aspectos que sofreram bastante com a mudança radical de cenário. É um total exagero cobrar de forma excessiva o trabalho de qualquer treinador.

E nem com os títulos conquistados por alguns treinadores aliviam a intensa pressão em cima deles. Casos de Rogério Ceni no Flamengo, que conquistou Campeonato Brasileiro, Supercopa do Brasil e uma Taça Guanabara, com cinco meses de trabalho, e do português Abel Ferreira no Palmeiras, que conquistou a Libertadores e Copa do Brasil, com seis meses de trabalho. Os dois técnicos de duas grandes equipes, com alto investimento, conquistando taças, também sofrem pressão por dois ou três resultados ruins.

Rogério Ceni continua pressionado pela torcida do Flamengo Foto: Alexandre Vidal/ Flamengo

Todo o contexto é ignorado independente do momento do clube. Trabalhos ruins acontecem e em determinados casos se justificam a saída do treinador, mas é preciso planejar mais, dar tempo para ideias e conceitos.

 

Treinadores estrangeiros também experimentam imediatismo brasileiro

Com os ótimos trabalhos do português Jorge Jesus no Flamengo e Sampaoli no Santos, em 2019, a chegada de treinadores estrangeiros no Brasil cresceu. Mas nem todo sucesso de alguns deles por aqui e os conceitos diferentes de futebol que muitos trazem, é o suficiente para torcedores, membros da diretoria e alguns profissionais da imprensa. De janeiro de 2020 até agora, dez clubes da Série A tiveram técnicos estrangeiros. Nestes dez times, passaram 14 treinadores. Só restam cinco.

Em apenas um ano o futebol brasileiro perdeu nove ideias de treinadores com conceito fora do Brasil. Rafael Dudamel, Jesualdo Ferreira, Ramón Díaz, Sá Pinto e Domenec Torrent foram dispensados. Jorge Jesus, Jorge Sampaoli, Eduardo Coudet e Ariel Holan pediram para sair. Restam Abel Ferreira, Hernán Crespo, Gustavo Morínigo, Antonio Oliveira e Miguel Angel Ramírez. O técnico do Palmeiras é quem está há mais tempo: cinco meses.

Mesmo conquistando a Libertadores e Copa do Brasil Abel Ferreira foi alvo de protestos de parte da torcida Foto: Reprodução/Palmeiras

E a maioria desses treinadores estrangeiros não tiveram muito tempo de trabalho. Dudamel durou nove jogos no comando do Atlético-MG, Jesualdo Ferreira dirigiu o Santos por 15 partidas, Ramón Díaz nem assumiu o Botafogo e sua comissão resistiu três rodadas do Brasileiro, Sá Pinto ficou quinze jogos no Vasco e Domenec Torrent, 23 no Flamengo. Ariel Holan pede para deixar o Peixe após 12 partidas.

Na Europa, os treinadores contam com muito mais paciência. Tem pressão, dificuldades, trabalhos ruins, mas sem essa loucura, na maioria das vezes, da cultura brasileira. Um exemplo foi a queda de José Mourinho no Tottenham, sendo a quarta saída de um técnico, em 33 rodadas de Premier League. No Brasil, nove entre 14 treinadores brasileiros não resistiram.