Por Claudia Mastrange
Atriz, escritora, roteirista, empreendedora… Suzana Pires é uma usina de ideias. O talento que pulsa na frente e atrás das telas, faz essa carioca, de 46 anos, brilhar em várias áreas. Destaque em tramas como “Caras e Bocas” e “Fina Estampa” e como autora, da novela “Sol Nascente”, é no universo das séries que promete emplacar seu próximo projeto. E em escala internacional! Suzana passa uma temporada em Los Angeles, nos EUA, onde desenvolve os roteiros da série “Woman Inc”, criada por ela e vendida para um estúdio internacional.
“Estou escrevendo. É muito incrível, né?”, conta a artista sobre a trama, falada em inglês, espanhol e português, que retrata a vida de mulheres empreendedoras. Ela sublinha a importância do reconhecimento do trabalho em um mercado tão competitivo. “Acho que o artista brasileiro hoje está sendo muito desrespeitado. A gente realmente é resistência. Mas fora do Brasil nós continuamos sendo muito respeitados”, afirma.
Formada em Filosofia pela PUC-RJ e em ShowRunner Drama Series pela MediaXChange, de Los Angeles, Suzana começou sua trajetória na TV como autora-roteirista para criação de projetos para TV a cabo, como o seriado “As Pegadoras”, dirigido por Cande Salles.
Em 2008, foi convidada pela TV Globo para integrar seu quadro de autores-criadores estreando no gênero de variedades em programas como “Vídeo Show”, e depois passando pela área de humor em produções como o seriado “Os Caras de Pau”. Na dramaturgia diária foi coautora do escritor veterano Walther Negrão, em “Flor do Caribe”, em 2012. Depois assinou em parceria a minissérie “Dama da Noite” e , em 2016, a novela “Sol Nascente”.
Atuou nas novelas “Bom Sucesso”, “A Regra do Jogo”, “Fina Estampa”, “Gabriela”, “Araguaia”, “Caras e Bocas”, nos seriados “A Grande Família”, “Minha Nada Mole Vida”, “A Diarista”, “Faça sua história”, “Força Tarefa”, entre outros, e foi premiada como melhor atriz no Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles em 2014, por seu trabalho como Tereza, no filme “A Grande Vitória”.
Recentemente, gravou a nova série da Disney Plus, “A Magia de Aruna”, da qual foi a vilã.
Suzana é uma mulher à frente do seu tempo. Em 2017, ao escrever uma coluna Dona de Si na revista Vogue, falando sobre empoderamento feminino, empreendedorismo, entre outros temas, viu seus textos incentivarem muitas mulheres a buscar seu espaço. De coluna, DONA DE SI tornou-se uma marca, alinhada com as ações de diversidade, inclusão e empatia.
Suzana hoje uma voz potente sobre a luta feminina por igualdade na sociedade, em especial, no mercado de trabalho. O braço de responsabilidade social tem suas ações através do Instituto Dona de Si, um acelerador de talentos femininos, que completou os 4 anos. Para celebrar essa trajetória, Suzana lançou o livro de sua autoria “Dona de Si”, pela editora DVS.
“Dona de Si não é um livro biográfico. Ele é a explanação do método Dona de Si para que cada mulher se torne empreendedora da própria vida. E a cada etapa do método, uso passagens da minha vida profissional como exemplo”, conta. “Sonho que as mulheres do Brasil sejam respeitadas”, dispara.
Está mais que na hora né? Confira nosso bate-papo com a multifacetada e talentosa Suzana Pires.
Como surgiu o convite para integrar o quadro de autores-criadores da Globo, que incluía produções como “Video Show”?
O convite para entrar na Globo como autora foi devido ao trabalho que eu estava fazendo na TV fechada, no Multishow, em 2005, que era o programa “As Pegadoras”. E eu escrevia para a Conspiração Filmes. Antes de escrever pra Globo. E o trabalho foi muito bem feito, né? Foi um sucesso. E aí a Globo me fez convite pra ir também como autora.
Foi um desafio escrever no gênero ‘variedades’?
Variedades é um desafio. Ainda mais se você vem de dramaturgia. Eu vinha de teatro, escrita de televisão e já com dramaturgia. Mas entrei na Globo, no núcleo de humor. Depois fui para variedades e depois pra novela. Também foi bom porque deu pra eu aprender como se faz praticamente todos os programas.Todos os gêneros. Isso foi muito rico pra mim.
Verdade que se sofria discriminação, sendo a única autora entre tantos
homens na emissora? Que até cafezinho te pediam para pegar?
Acho que era uma época em que não se falava sobre esse assunto mas as mulheres, com certeza, tinham um lugar mais oprimido.? Nas equipes havia funções que eram nitidamente mais masculinas. Havia poucas mulheres nessas funções, pouquíssimas. Então pra você se coloca, você tinha que ter um pouco mais de energia. Precisava ter um pouco mais de inteligência emocional. E acho que isso não aconteceu só comigo. Acho que toda mulher tem uma história dessa pra contar, né?
Como foi escrever no ritmo alucinante das novelas, em “Flor do Caribe” e “Sol Nascente”? Pensa em voltar a essa área como autora? Tem alguma novela engavetada?
Ah sim “Flor do Caribe” foi um ritmo também alucinante, mas alucinante mesmo foi “Sol Nascente”. Que foi a minha primeira novela assinada. Então o ritmo é o outro quando você é a responsável pela entrada e saída. Por tudo na novela. Gostei da experiência. Amo novela, amo fazer, amo escrever, mas agora realmente estou focada em escrever série. Que é um outro tipo de produto. Mas, com certeza, a experiência com a novela está somando a isso.
Dos seus trabalhos em novela, tem um que tenha curtido mais?
Olha, eu curti muito todos, mas pela Ivonete de “Caras e Bocas” eu tenho um carinho especial. Porque foi o primeiro personagem que mudou a minha carreira. Me fez ser uma atriz conhecida, popular e o convite veio a partir do teatro.Eu fazia uma peça com o (autor Walcyr) Carrasco e ele me convidou pra ter um personagem grande na novela dele, por conta do trabalho que eu estava fazendo no teatro. Então eu tenho um carinho muito grande por esse caminho de entrada numa novela.E o personagem até hoje é muito famoso.
Você arrasou como vilã na novela “Fina Estampa” e agora vive outra em “A Magia de Aruna”.Fale um pouco sobre esse novo trabalho e a magia das ‘malvadas’.
Acho que tem uma diferença. Acho muito divertido fazer malvada, mas numa novela das nove você está fazendo malvadeza adulta. E numa série da Disney você está fazendo malvadeza mais lúdica. Sai raiva do seu olho, sai raio da sua mão, você tem poderes especiais, então é outro tipo de vilã. Mas essas duas são muito divertidas.
Conte como foi sua saída da Globo. Com o streaming os artistas passaram a ter também muitas outras portas no mercado né?
Creio que foi tudo OK na saída da Globo. Continuamos com uma relação muito boa, assim como eu tenho uma relação muito boa com inúmeras pessoas que eu trabalhei. Parceria mesmo, de confiança. Foram muitos anos na emissora e eu acho que é a tendência natural do mercado, são atores freelancers trabalhando, cada hora com um produto, um streaming. Essa maneira (antiga) de contrato longo, isso não cabe mais nesse modelo de negócio.
Conte um pouco sobre sua produção “Woman Inc” e sua temporada aí em Los Angeles. Já está em pré-produção? Como é ver seu trabalho com esse reconhecimento internacional? Como vê esse mercado para o artista brasileiro e as mulheres, mais especificamente?
Eu só posso dizer que tô aqui escrevendo ainda. Não está em pré-produção, ainda estou escrevendo. É muito incrível, né? Assinar um contrato internacional, de uma obra… Eu sempre acreditei nesse nessa história, nesse texto, nas personagens que eu escrevi. E é isso. Eu não desisto. Quando entendo que tem força, que eu vou tocar o coração das pessoas, eu não vou desistir de contar aquela história. Acho que o artista brasileiro hoje está sendo muito desrespeitado. A gente realmente é resistência. Mas fora do Brasil nós continuamos sendo muito respeitados e tendo muita dignidade no mercado. Então a gente vai resistir a esse governo tentando acabar com a gente… Eles não vão conseguir.
A série fala de mulheres empreendedoras, e você é uma! Que mulheres te inspiram e que dica dá para a mulherada que busca conquistar seu espaço e emplacar suas ideias e projetos?
Bom, de mulheres empreendedoras eu conheço. Sou uma delas e tenho um instituto que acelera mulheres empreendedoras, tenho o livro “Dona De Si”… A grande dica que eu entendi pra mim e que é a base do trabalho no instituto é: a gente precisa muito cuidar da gente pra gente conseguir levantar um negócio. Então saúde física, saúde mental, sua própria segurança… São itens primordiais se você quer empreender.
Como surgiu a ideia de criar o ‘Dona de Si’ ? Fale um pouco sobre esse trabalho que virou marca e o alcance social e ações do Instituto. Verdade que vendeu ate suas bolsas Chanel para poder abrir o Instituto?
Sim eu vendi as minhas bolsas Chanel pra fazer o primeiro aporte do instituto. Então com isso consegui criar um uma formação, contratar equipe, fazer toda a papelada do Instituto muito direitinha, a ideia Instituto nasceu a partir da minha coluna, Dona de Si. O conceito dessa mulher que faz por si mesma, que tem sororidade, que se conhece a ponto de saber seus limites, suas forças e suas fraquezas, onde ela vai se superar. È um conteúdo que é coluna, instituto, um produto muito rico. É livro também; uma filosofia mesmo.
Qual o enfoque do livro? Ele conta essa trajetória e pode ser considerado um guia inspirador para as mulheres?
O livro conta a formação do “Dona de Si”, mas cruzando com a minha história de empreendedora. Então eu conto várias histórias que eu passei, histórias vitoriosas e histórias que não foram tão boas. E como eu consegui ir adiante. Então ele é um guia realmente para a mulher que quer fazer acontecer.
Como avalia toda a sua trajetória?Desde a menina que tinha aqueles sonhos distantes, até a mulher empoderada de hoje. O que mais te desafia atualmente?
Nossa eu acho eu tenho avaliado a minha trajetória como realmente eu queria. Duas coisas. Lá no começo eu queria construir uma carreira sólida. E eu queria pagar meus boletos. E queria ter muita qualidade no meu trabalho. Queria que quando ouvissem meu nome falassem assim: ‘ah vai ser bom. Se tem ela, vai ser bom’. E eu acho que hojeu posso dizer que o público reconhece essa qualidade. Os contratantes também. E não foi fácil porque eu tive que dizer muito ‘não’.Eu tive que não abaixar a minha cabeça pra manter a qualidade do meu trabalho. Nossa pagar os boletos é tudo né? E ainda consegui viajar seguir, estudar, conseguir investir em mim mesma. Ah, é o sonho mais puro, assim. De ser artista, ter uma carreira sólida. O que é o sólido? Nunca vai te faltar quando a coisa é sólida. Você não é só uma brisa. Você é um vento, você é um vento constante. Então sou muito orgulhosa de tudo que eu construí até aqui e agora eu estou construindo para mais quarenta anos.
Dá tempo de cuidar da vida pessoal, se exercitar, se divertir..Esta namorando? O amor empodera também?
Sim, dá tempo, dá tempo porque eu tenho uma equipe. Não foi fácil. Foram uns dez anos pra montar uma equipe, realmente. Para eu saber ser líder, para entender que equipe eu precisava…Então hoje eu consigo fazer aula de dança, consigo me divertir, consigo namorar… É, o amor empodera, o amor verdadeiro empodera. Aquele amor que quer mudar coisas em você ele não empodera. Então tem que ficar ligada nisso, né?
O que sonha para as mulheres do Brasil?
Olha meu sonho para as mulheres de todo o Brasil é que elas sejam respeitadas. Respeito da sua força de trabalho, respeito pela sua existência. E que elas parem de ser agredidas. Então o meu trabalho de empoderar a partir do trabalho de monetização de talento é isso. É que ela não ceda a uma relação violenta e possa sair de um lugar em que não esteja bem, e que ela tenha autonomia na vida.
E, como carioca, para o nosso Rio de Janeiro? O que mais ama na Cidade – ainda – Maravilhosa?
A Praia da Reserva, onde moro, é um lugar que me dá muita paz, muita tranquilidade que eu sinto em contato com a natureza. Eu gosto da vista que tenho da minha casa, que é o canal de Marapendi, com a praia, com aquele marzão. Gosto de ir à praia ali, que é muito calmo, fazer exercício na orla. Então eu fico com a Praia da Reserva. É o meu lugar no Rio.
Fotos: Edu Rodrigues